sábado, 16 de outubro de 2010

MEU LIVRO

Sincronia certamente é bem diferente de discriminação. Ela não tem idade, cor, raça, sexo, classe social e credo. A sincronia simplesmente acontece. Estar em sintonia com algo ou alguém é fantástico. Eu posso dizer que tenho uma cumplicidade muito grande com uma criança que não tem laços familiares comigo, mas  uma sincronia muito bacana. A gente conversa como gente grande e se dá muito bem. Por ela e para todas aquelas pessoas que admiram relações sincronizadas, segue um trecho do meu livro que permanece na batedeira. Mas o que está ali, ninguém poderá apagar. Levar para a forma e depois para o forno é uma questão de tempo. Não tenho pressa. Escrever será sempre um prazer! Se tiverem vontade de ler mais é porque estou no caminho certo. Do contrário, me desejem boa sorte!

..."A névoa fazia parte daquele vilarejo cercado por montanhas que surgiam em meio à planície. O plantio de arroz em campos inundados era uma das formas de sobrevivência. Os bambuzais também tornavam a paisagem ainda mais fascinante aos seus olhos. Aquele lago com pedras ao fundo levava a um córrego coberto por árvores e muitas flores.


Sempre com uma pedrinha na mão, ela correria de um lado para o outro em meio ao jardim. Curiosa que só ela, amava ficar brincando por ali. Rodeada de flores e plantas, não se contentava em apenas olhá-las e observá-las. Com uma sensibilidade incrível nas mãos, ela mexia na terra com uma propriedade inacreditável. Cavava buracos, remexia nas pedrinhas, trocava tudo de lugar e ajeitava da sua forma.

Uma criança cheia de vida e de muitos sonhos. Adorava conversar com as plantas. Desenhava no solo os bichinhos que já conhecia. Naquela região não eram muitos, mas já faziam a sua diversão. Os olhos bem puxadinhos tinham a cor de mel e não deixavam escapar nada. Sempre atenta, a japinha era uma criança iluminada pela sua inteligência e pela maneira que via o mundo.

Toda a semana ela separava várias mudas do jardim e entregava para sua mãe guardar em potinhos e pedia para deixá-los expostos ao sol. Bétulas, bordos, cipestres, cedros e cerejeiras tornavam as encostas das montanhas ainda mais exuberantes sob o olhar meigo daquela doce menina. Ela tinha um poder nas mãos inacreditável. Bastava remexer na terra que tudo nascia forte e com cores vibrantes.

A japinha construía seu próprio mundo nos jardins de casa. É como se fosse a sua vida em miniatura, onde os personagens ganhavam ainda mais cor e brilho. Ela conseguia unir pedrinhas, água, cascalho e muito verde de forma extremamente equilibrada. As árvores e os bambus eram os responsáveis pela sombra necessária em determinado momento do dia. Mesmo sendo uma criança, ela sabia exatamente quando era preciso ser feita a poda de alguma planta.

Mas o mais incrível era a mistura de plantas e ervas que a pequena pedia para sua mãe fazer com aquelas mudas separadas em potes. Ela ia dizendo a quantidade de água e as ervas que deveriam ser colocadas a ferver, enfim todo o procedimento a ser feito. Depois dizia aos seus pais o quanto deveriam beber ou, em algumas situações, onde precisavam passar a mistura. No início, eles achavam que aquilo era uma brincadeira de criança, mas depois foram percebendo que existia algo mágico naquelas essências produzidas por ela.

O rostinho da japinha era perfeito com aquela franja lisa e negra que encantava a todos. O nariz parecia pintado à mão, tamanha a perfeição. Sua boca fazia biquinhos e trazia um sorriso que chegava a desconcertar qualquer um. A pequena japonesa por onde passava atraia olhares. Era uma graça de menina com bochechas muito fofas." ...

Patrícia Zingalli

 

3 comentários:

Unknown disse...

Muito lindo, amada!
Grande sensibilidade e delicadeza!!!!!!!

COMIDA FALA - Karen Monteiro disse...

gostei... conta mais..

AdriCereser disse...

Adoro os teus textos!